Isaque Pereira de Sousa


                                Cresci no extremo sul do Pará em uma família composta por minha mãe Dora, meu pai Zacarias e meus dois irmãos, Samuel e Marcos. Morávamos em uma casa de pau a pique com o telhado de palha de palmeiras aos arredores da Floresta Amazônica. Ao longo da vida passamos por diversas dificuldades, não tínhamos banheiro, fogão, energia elétrica, cama, brinquedos e entre muitas outras coisas. Meu primeiro acesso à educação formal foi em uma escola que ficava em uma vila próxima, aproximadamente 5 km da minha casa. Eu e meus irmãos fazíamos esse trajeto sozinhos todos os dias durante o período letivo. Nossa mochila era o saco de açúcar que nossa mãe reutilizava, tínhamos duas peças de roupas e o nosso melhor calçado era uma sandália havaiana. Eu não me incomodava em andar esses 10 km diariamente para ir à escola mas, ficava um tanto chateado com o orvalho das árvores que nos molhava pois, chegávamos na escola como se tivessemos pegado uma chuva no trajeto. Para mim, a escola era um lugar incrível, podíamos comer a deliciosa sopa de letrinhas e a tia Conceição deixava repetir o lanche. A tia Neuma foi a primeira e melhor professora que eu tive, um amor de pessoa. Tínhamos uma vida simples contudo, feliz. As coisas começaram a ficar ruins quando meu pai vendeu a nossa terra e comprou uma outra mais próxima do vilarejo, ele ficou com uma boa quantidade em dinheiro e no dia 05 de março de 2007 fugiu de casa com uma mulher mais jovem. A nossa casa infelizmente não resistiu a avalanche de problemas, minha mãe entrou em depressão, meu irmão mais velho virou um alcoólatra, o mais novo foi morar com um tio e eu fiquei morando transitoriamente na casa de vários tios. A vida exigiu que eu trabalhasse muito cedo, aos 13 anos de idade consegui meu primeiro trabalho. Acordava de madrugada para buscar leite das ordenhas e ao fim do mês, o meu primeiro salário totalizou o valor de R$30,00. Trabalhei derrubando árvores, ordenhando vacas, capinando, fazendo farinha, roçando pasto, fazendo cerca, plantando capim dentro de pântano dentre várias outras coisas que se possa imaginar. No final de 2011, meu tio me convidou para trabalhar e morar com ele em Brasília. Aceitei na hora e no outro dia deixei minha mãe em uma rodoviária e embarquei apenas com uma mochila, duas peças de roupas, 50 reais no bolso e um sonho. Quando cheguei em Brasília, não acreditava, era extraordinário . Passei muitas dificuldades mas, consegui trazer minha família para Brasília. Hoje, todos nós temos casa própria, trabalhamos, estudamos ainda. Esse mês será a colação de grau da minha mãe. Eu, casei com uma mulher incrível, conseguimos nossa casa, carro, poupanças e já viajamos para nove estados brasileiros e ainda temos muitos sonhos para realizar. Sinto-me feliz, realizado e próspero. Quando volto no tempo, não consigo imaginar como conseguimos chegar tão longe. As pessoas que nos criticavam antes, hoje reconhecem e nos elogiam mas, tenho certeza nunca foi sorte, sempre foi Deus.
                            

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